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É preciso falar sobre o suicídio de forma aberta

O suicídio é uma triste realidade que atinge o mundo todo e causa danos à sociedade. É uma questão de saúde pública. Já passou da hora de que medidas efetivas sejam adotadas para que as taxas de casos no Brasil.

Muitas são as suas causas. O desconhecimento, a desinformação, os diagnósticos e tratamentos incorretos, além do fato de ainda haver muito preconceito em relação ao problema, estão entre os fatores responsáveis pelo aumento do número de casos no Brasil e em outros países da América, apesar de a tendência ser inversa em outras regiões.

O suicídio em números

Dados de um estudo feito pela OMS em 2019 mostram que:

  • mais de 700 mil pessoas morrem atualmente por suicídio no mundo;
  • é a quarta causa maior causa de óbitos entre jovens de 15 a 29 anos;
  • mais homens morrem devido ao suicídio do que mulheres (12,6 por cada 100 mil homens em comparação com 5,4 por cada 100 mil mulheres);
  • 14 mil suicídios por ano é a média brasileira (cerca de 38 por dia);
  • em 2019, somente 38 países tinham uma estratégia nacional de prevenção ao suicídio.

Diante deste quadro, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, ressalta a necessidade e a importância da orientação, da conscientização e da prevenção e informa que no mês de setembro, os esforços e as ações preventivas da ABP são reforçados.

Um olhar para quem cuida

Se lidar com o tema já é difícil, olhar a questão sob ponto de vista de algumas categorias profissionais torna-se algo inadiável. Estudo da American Psychiatric Association (Associação Americana de Psiquiatria – APA) divulgado em 2018, mostrou que um suicídio é consumado ao dia entre os médicos norte-americanos, tendo a depressão como a principal causa. O documento aponta que é a mais alta taxa entre todas as profissões.

A pandemia veio escancarar essa realidade. A Fiocruz Mato Grosso do Sul e Fiocruz Brasília realizaram um estudo, no início de 2022, mostrando que:

  • 65% dos profissionais de saúde apresentaram sintomas de transtorno de estresse;
  • 61,6% de ansiedade;
  • e 61,5% de depressão.

O universo da pesquisa foi de 800 trabalhadores das áreas de enfermagem, odontologia, medicina, farmácia e fisioterapia.

Ressalta-se que, a maioria destas pessoas dificilmente procura ajuda ao descobrir os primeiros sinais da doença.

                “Acolhimento é o que sedimenta o solo fragmentado pela dor.”

                                                                 Karina Fukumitsu

                        Psicóloga, suicidologista, Gestalt-terapeuta e psicopedagoga

Da mesma maneira que pessoas têm dificuldade em compartilhar os sentimentos, hesitam em externar suas necessidades.

Em dezembro de 2021, o Colo de Cumaru promoveu uma atividade de escuta e acolhimento para profissionais de uma UTI neonatal e da emergência de um hospital em Santa Catarina. Não foi surpresa encontrar dor e sofrimento entre aquelas pessoas. A impotência, a solidão, o medo de não saber como acolher os pacientes e familiares e a dificuldade de aceitar a morte surgiram como resultado da escuta realizada.

Necessidade de serem cuidados; de escuta; de terem um espaço no ambiente de trabalho para poderem relaxar (o espaço de descompressão) e até mesmo a necessidade de maior integração entre as várias equipes daquela unidade surgiram como resultado da partilha.

Fica evidente, a urgência do desenvolvimento de iniciativas e políticas públicas de cuidado para profissionais de saúde e para todos aqueles que cuidam de pessoas em sofrimento no Brasil.

Identificando sinais

É importante estar atento ao que se que passa ao redor com as pessoas próximas e buscar identificar os primeiros sinais de que algo não está bem.

Segundo especialistas, não há uma receita para detectar com segurança uma crise, mas alguns sinais podem servir de alerta:

isolamento;

pensamentos recorrentes sobre a morte;

falta de interesse por atividades antes apreciadas;

expressão de ideias ou intenções suicidas;

pensamentos sobre falta de esperança;

mudanças bruscas de conduta diária como tomar banho, escovar os dentes, entre outros.

Outros fatores podem desencadear processos depressivos como aso separações conjugais, perdas de pessoas queridas, falência, perda de emprego.

Setembro Amarelo

O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é oficialmente 10 de setembro, mas há ações desenvolvidas em torno do tema durante todo o ano. A data foi estabelecida pela Associação Mundial de Prevenção ao Suicídio e é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Desde 2014, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria – ABP juntamente com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organizam o Setembro Amarelo, considerado a maior campanha para a redução do estigma do mundo, segundo a ABP. Neste ano, seu lema é “A vida é a melhor escolha”.

Um caminho a seguir

A informação é uma ferramenta essencial no processo de esclarecimento para quem sofre ou não de algum transtorno e para quebrar a barreira que ainda impede que o suicídio seja tratado de frente e deixe de ser um tabu.

Apoio e acolhimento são fundamentais em qualquer momento. Estar disponível, oferecer uma escuta ativa sem julgamentos, demonstrar empatia e agir, buscando tratamento, fazem toda a diferença.

Compreende-se, assim, que boa parte dos suicídios poderia ser evitada se as pessoas tivessem acesso a informações de qualidade, tratamentos adequados e se sentissem acolhidas e confortáveis para promover conversas sinceras sobre o assunto.

Encontre informação e apoio para prevenir o suicídio

Emergências

Bombeiros

Os bombeiros são altamente treinados para qualquer tipo de resgate.

Fone: 193

SAMU

Serviço móvel do SUS responsável por atender urgência e emergência em diversas situações.

Fone: 192

Polícia

Pode ajudar e socorrer em casos de risco físico, surtos, ameaça de suicídio ou de agredir a outras pessoas.

Fone: 190

CVV – Centro de Valorização da Vida

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

Informações para prevenção ao suicídio e orientações para atendimentos

Setembro Amarelo

Site da Associação Brasileira de Psiquiatria, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Psiquiátrica de América Latina com informações sobre a campanha e profissionais de saúde que prestam atendimento especializado.

Rede de Proteção à Vida

Informação e apoio que pessoas possam superar suas dificuldades e transtornos emocionais, equilibrando a saúde mental e espiritual.

Mapa da Saúde Mental

Site com informações sobre serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos ou voluntários realizados por ONGs, instituições filantrópicas, clínicas escola, entre outros.

Instituto Vita Alere

Instituto especialização em prevenção e pósvenção do suicídio.

Movimento inFinito

Desenvolve iniciativas e difunde informações que proporcionam conhecimento sobre temas sensíveis e com os quais a maioria de nós tem dificuldade para lidar. O envelhecimento, o adoecimento, a finitude, o suicídio e o luto são alguns deles.

Dica de Livro

Nem covarde, Nem herói – Amor e recomeço diante de uma perda por suicídio - Luciana Roca, psicóloga e especialista em suicidologia (Gulliver Editora)

Suicídio e Luto: Histórias de Filhos Sobreviventes - Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga, suicidologista, Gestalt-terapeuta e psicopedagoga (Digital Publish & Print Editora)

Sobreviventes Enlutados Por Suicídio - Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga, suicidologista, Gestalt-terapeuta e psicopedagoga (Summus Editorial)

O demônio do meio-dia - Andrew Salomon, consultor especial de saúde mental LGBT em Yale e professor de psicologia clínica no Columbia University Medical Center, EUA (Companhia das Letras)