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Somos um país solidário, mas ainda precisamos fortalecer a cultura da doação

A cultura de doação no Brasil ainda é incipiente, mas crescem as iniciativas de conscientização para a sua importância.

A generosidade faz bem à saúde. Doar aumenta a felicidade em doadores e também em receptores, afirma pesquisa recente publicada na Revista de Psicologia Experimental da American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia)

O estudo confirmou os benefícios da bondade para doadores, mas revelou que eles subestimam o impacto sobre os receptores. Além disso, mostrou que a generosidade pode ser contagiosa. Quando se recebe um ato de bondade, as pessoas tendem a compartilhar e retribuir a bondade a outra pessoa.

O ser humano é compassivo em sua natureza. A história nos mostra como as sociedades se mobilizam em momentos como o de guerras, de pandemias, de desastres naturais ou catástrofes causadas pelas mãos do homem. Não podemos nos esquecer dos atos invisíveis de benevolência também.

Doar em números

Se a disposição em ajudar o próximo faz bem, seria quase natural que a cultura da doação fosse uma prática em todo o mundo. Há, porém, países mais generosos que outros. Segundo o The World Giving Index 2021 (Índice de Doação Mundial 2021) da Charities Aid Foundation (CAF), o líder do ranking da generosidade é a Indonésia (em 2020, ocupou na segunda posição). Lá, a taxa de voluntariado supera a global em mais de três vezes. O Brasil ficou em 54º no mesmo ranking.

No ano passado, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) divulgou a pesquisa “Brasil Giving 2021 – um retrato da doação no Brasil”. O estudo apontou que houve uma queda de 78% em 2019 para 72% em 2020 nas ações de voluntariado e em doações (comparação feita entre os meses de fevereiro).

O IDIS também apresentou a segunda edição da “Pesquisa Doação 2020”, que revelou que cerca de 67% dos brasileiros fizeram algum tipo de doação, sendo que 41% doaram dinheiro e 37% destinaram para ONGs, 16% doaram dinheiro durante a pandemia. Contudo, os números mostraram uma queda em relação a 2015, quando 77% dos brasileiros haviam doado.

Mobilização e conscientização

O Brasil é solidário. A pesquisa do IDIS mostrou que 83% dos brasileiros acreditam que doar faz a diferença. Entretanto, há uma distância entre acreditar e agir. A cultura da doação tem muito a evoluir no país.

Ainda hoje, atos de generosidade estão muito associados à caridade e às ações emergenciais, o que é fundmental, claro, mas a sociedade precisa estar consciente da doação como fator essencial para a construção da cidadania.

É animador ver que, a cada ano, crescem e se solidificam as iniciativas de conscientização do poder da doação e de fortalecimento do hábito de doar como parte da rotina das pessoas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Em 2012, um grupo de pessoas físicas e empresas interessadas no desenvolvimento do ecossistema de doação se reuniu e criou o Movimento por uma Cultura de Doação. Desde então, ações coletivas têm sito articuladas e promovidas para dar visibilidade à causa em todo o país.

O Dia de Doar talvez seja a de maior projeção. É um movimento mundial de valorização da cultura de doação que, desde 2013, é realizado no Brasil, tendo à frente a Associação Brasileira de Captadores do Recursos (ABCR). Surgiu nos Estados Unidos, em 2012, com a denominação de #GivingTuesday (terça-feira de doação).

A edição de 2022 do Dia de Doar acontece em 29 de novembro. Neste ano, o movimento ampliará seu escopo e também incentivará a realização das campanhas comunitárias. O objetivo é mostrar que, por meio da união, é possível mobilizar recursos locais para projetos de transformação social e ambiental nas próprias comunidades.

Doar não se restringe a dar dinheiro e pode transformar vidas. Podemos doar tempo, conhecimento, escuta, um sorriso e até mesmo um olhar. Não há limites para atos de generosidade.

Vinte e nove de novembro está chegando e eu convido todos a refletir sobre como tornar o hábito da doação uma prática cotidiana.